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25 de julho de 2012

Um ano sem Amy Winehouse




Dia 23 de julho de 2011... Acordei tarde (como na maioria dos dias) e me mandei rapidinho pro shopping. Sem tempo algum de assistir TV, muito menos ouvir rádio. Tinha um encontro marcado para aquela tarde. Quando a gente se diverte o tempo costuma passar bem mais rápido. E foi assim naquele dia. Cheguei na hora dos telejornais noturnos em casa. Novamente sem ter prestado atenção no mundo que me cercava, parte pela felicidade do excelente encontro, parte pela falta de tempo em me atualizar. O fato foi que ao chegar no meu lar vejo pela TV uma casa em um bairro pacato isolada por fitas, policiais no entorno do local e ambulâncias típicas de Londres. Deduzi de pronto que alguém de lá havia morrido. Logo em seguida meu pai, que provavelmente estava bem mais antenado que eu, inicia um breve diálogo antes do nosso jantar com a minha mãe:


            - Amy Winehouse morreu, foi? – perguntou ele com aquele ar de quem já sabia a resposta.
            - Claro que não, pai! – respondi. – Que pergunta mais besta essa... – complementei com um tom de evidente deboche.


Mas o “besta” da situação tinha sido eu. Não consegui decretar aquele dia 23 como o escolhido para representar o ato final da crônica de uma morte anunciada. De fato o destino pregou essa peça em mim. Amy Winehouse estava morta.

Milhares de pessoas também embarcaram no mesmo bote que eu. Todas meio perplexas, surpresas ou perdidas pela perda da cantora, ainda que a pedra tivesse sido “cantada” há pelo menos um ano. Os mais preparados antevendo o quase óbvio fizeram até um bolão onde o vencedor ganharia um iPod Touch caso acertasse a data mortis da cantora. Houve um vencedor, mas será que ele colocou no seu iPod um pouco da enorme contribuição que a cantora londrina deixou em terra? Sempre fiquei com essa dúvida pairando na mente.


Temperamento explosivo, vida conturbada, polêmicas quase que diárias, uma vida com álcool e drogas fazendo parte do cotidiano... Convenhamos que este seja uma espécie de “perfil-padrão” do stylelife de grandes artistas do cenário musical do mundo. Com Amy não foi diferente. Porém detesto falar disso. Embora os artistas enquanto figuras públicas sejam (ou deveriam ser) exemplos de conduta para seus seguidores, quem está do outro lado do palco talvez nunca entenda a relação das drogas com os artistas. Também não me esforço tanto pra entender. Me resumo apenas à arte, se possível for. Assim como sou contra publicar fotos à la legistas (fotos tiradas com o corpo das pessoas exatamente do jeito que foi encontrado). Mas falar deste tipo de oportunismo e sensacionalismo não é o objetivo do post. Porém digo que nem ela, nem nenhum artista, é digno de tanta perseguição.

Começo a me convencer que a genialidade se desenvolve muito mais nas pessoas problemáticas. Ou seria o perfil problemático que se desenvolve melhor nas pessoas geniais? Não sei, mas Amy resolveu criar estes dois titãs dentro de si até quando um deles resolvesse insurgir. Infelizmente o que não podia vencer, venceu. O vício em “amor e outras drogas” acabou por ser letal para ela. Amou muito e viveu intensamente, até que as suas forças se exaurissem. Mas como disse, prefiro falar apenas da genialidade deste ícone da música.

Amy foi a representação-mor de mais uma Invasão Britânica pelo mundo. Depois dos Beatles nos anos 60, Pink Floyd e Queen nos anos 70, o New Wave britânico dos anos 80 e as Spice Girls nos anos 90, várias cantoras-solo dominaram as paradas britânicas, americanas e mundiais. Amy Winehouse puxou a fila, seguida de Kate Nash, KT Tunstall, Lily Allen e Adele. Inegavelmente Amy e a sua “influenciada” Adele foram o supra-sumo dessas artistas anteriormente citadas. Duas vozes excepcionais e que raramente deixam de ser comparadas pelos críticos modernos. Para mim as vozes se equivalem, com certa vantagem para Adele, mas a grande diferença está no estilo musical das duas. E é justamente aí que a estrela de Amy brilha mais intensamente.


Uma sonoridade própria, com elementos de Soul e Jazz marcantes da década de 60, mas, paradoxalmente, com elementos musicais muito contemporâneos. Instrumentos de sopro, piano, linhas de baixo bem destacadas, assim como os trechos de percussão bem trabalhados com baterias e pandeiros... Tudo isso dá a oportunidade para que os ouvintes façam uma viagem no tempo. Basicamente o que Amy fazia era um sucesso absurdo há 50 anos com os conjuntos de Soul da gravadora Motown, uma das mais importantes da época. Mas a sua voz incrível e suas letras inteligentes fizeram com que qualquer comparação com os grandes da época ficasse apenas no campo instrumental. Como artista ela era única.


Maquiagem e penteados que ressurgiram para marcar um estilo único e comprovar que ela era uma Diva do Soul em uma versão “Século XXI”. A válvula de escape perfeita para quem, assim como eu, não é muito fã de artistas pop, boybands, girlbands e afins. Atrevo-me até a dizer que Amy usou sua música pra “converter” alguns dos adoradores de boybands. Converteu com o seu talento puro. Com um número irrisório de recursos eletrônicos tanto em sua voz quanto nas belas harmonias musicais. Com a sua voz potente e delicada ao mesmo tempo. Conseguiu nos lembrar de um tempo onde alguém só conseguia colocar os pés em algum estúdio de gravação se o talento lhe falasse ao pé do ouvido todos os dias.


Tentei fugir dos clichês, embora o da “morte anunciada” fosse inevitável de se esquivar. Falo muito mais como um admirador do trabalho dela do que como um fã. Porém certamente Amy faz - e fará - falta. Mas quer saber de uma coisa? Talvez tenha sido melhor assim. Quem sabe ela não tenha encontrado num plano maior a paz que todos nós procuramos em vida? É certeza que o seu legado será passado adiante. Tanto pelos seus fãs, quanto pelos críticos, ou pelos admiradores da boa música e por você que está lendo este artigo hoje. Descanse em paz, Amy. Por tudo que fez, você merece.

Musiquem-se!

2 comentários:

Laura Lira disse...

"We should know that she's no good". Realmente, apesar da morte iminente, a ideia de que isso fosse, de fato, acontecer em pouco tempo não convencia a maior parte de seus fãs e admiradores - que não eram/são poucos. É impossível fugir do clichê quando se trata da partida de uma personagem tão célebre: ela pode não estar mais entre nós quanto ao físico, mas, certamente, se eterniza através de sua gloriosa arte e ousadia.

Alan Carvalho disse...

Laura... Seus comentários são melhores que os meus textos... Por isso a homenagem. Raramente nascem artistas como ela. Valeu pelo comentário. Beijo!

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